quinta-feira, 21 de junho de 2018

UMA REVOLUÇÃO TRIBUTÁRIA


Da série “O Brasil que eu quero”
No seu livro, Construção de Estados – Governo e Ordem Mundial no Século XXI, o americano Francis Fukuyama trata da importância de criar instituições fortes em nações falidas. Diz ele que “Nunca vamos ter, contudo, um modelo de sociedade melhor do que a democracia orientada pela economia de mercado” e que “a chave para o desenvolvimento econômico de regiões pobres e para a manutenção da ordem mundial é a construção de um Estado forte”, baseado no federalismo e na descentralização do poder.
O nosso regime presidencialista dá sinais de esgotamento com um Estado inchado, que centraliza as verbas como fonte de poder para controlar o parlamento, estados e municípios, uma das maiores causas da corrupção. O centralismo e a fúria fiscal do Governo da União estão levando Estados e municípios à ruína absoluta, fragilizando as bases da própria democracia brasileira.
Antes de uma reforma política é necessário que se firme um pacto federativo, “pela melhor distribuição de tributos e de poder, com um Executivo menos centralizador e um Legislativo mais independente e responsável”. É aprofundar a tendência dos constituintes de 1988 de pautar o sistema de financiamento do Estado por uma profunda desconcentração financeira que invertesse o fluxo dos recursos arrecadados, transformando o município no único arrecadador de tributos, com uma ampla autonomia fiscal e com a obrigação de recolher somente dois tributos para custear os orçamentos federal e estadual.

O município poderia montar a matriz tributária que melhor se ajustasse às suas características, na busca de competitividade, graduando a carga dos diversos tributos dentro da faixa estabelecida pela União.

O sistema de arrecadação e fiscalização seria o mesmo.  O que alteraria seria o destino dos recursos arrecadados a ser determinado pelo endereço fiscal dos contribuintes, pessoa física ou jurídica.

Muitas são as vantagens. Todas, no sentido de se criar um Estado federativo mais moderno, dinâmico e democrático.

Facilitaria o controle social. O prefeito é o executivo público mais acessível ao cidadão. É no município onde vivemos. Menor seria a sonegação pelo comprometimento do contribuinte com a sua cidade.

Acabaria o passeio do dinheiro, uma das maiores fontes de desperdício e de corrupção. Acabaria o clientelismo que desfigura o Orçamento da União. Fortaleceria o regime federativo.

Os municípios começariam a se compor na busca de soluções regionais e de competitividade. As microrregiões formadas teriam mais facilidade para progredir, mais liberdade para se articular e se inserir na economia globalizada. O norte da Itália é um exemplo, com soluções que estimulam a formação do capital social necessário ao desenvolvimento sustentado.

Acabaria a indústria das emancipações que só causam desperdícios. A emancipação exigiria uma reflexão dos cidadãos quanto à capacidade de custear a construção da infraestrutura pública e de pagar os dois tributos, o federal e o estadual. A capacidade econômica seria a soma dos tributos, de qualquer natureza, gerados pelos CPF e CNPJ com endereço fiscal na área a ser emancipada, pois nenhum tostão receberia, ao contrário, ele, o município, é que deveria pagar os dois tributos para custear a UF e a União.
As dificuldades iniciais, os desequilíbrios, seriam compensados pelos municípios mais ricos que preferirão exportar seus excedentes de riqueza a importar a miséria que chega, se instala e gera custos de toda ordem. Simplicidade, eficiência e transparência.

Induvidosamente, esta proposta colocaria a totalidade das prefeituras ao lado do Governo, independente das cores partidárias, pois o prefeito é orientado pelas demandas da sua comuna.

A migração do estado atual para o de reforma plena exigiria um prazo para capacitar municípios à gestão dos recursos arrecadados.
Reconheça-se, no entanto, que esta revolução não sairia de um Congresso de vendilhões que temos e que assim continuará, até que se faça uma reforma política e que se exorcize os corruptos que infestam o cenário político. E o Brasil não pode parar.
A solução será usar os recursos constitucionais disponíveis, compensar as nossas frágeis instituições, pois, segundo o constitucionalista Ives Gandra Martins, “os constituintes de 1988 deram às Forças Armadas o relevante papel de estabilizador das crises políticas e sociais, quando os Poderes se tornarem incapazes de uma solução por vias normais”.

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