segunda-feira, 15 de maio de 2023

O PERIGO REAL E IMEDIATO

 


Sempre justifiquei minhas decisões e é o que faço, dias antes de uma das mais importantes eleições da nossa história.

A História mostra que existem valores que, quando ameaçados, levam, grupos antagônicos a abafar suas divergências e a potencializar suas convergências para gerar forças de coesão, capazes de  formar alianças para enfrentar o inimigo comum, o perigo real e imediato, que, depois de destruído ou neutralizado, esvaem-se.

E o PERIGO REAL E IMEDIATO que ameaça o nosso Estado Democrático de Direito é o Bolsonarismo Fascista cujo ícone é o presidente Jair Bolsonaro, por isso votarei no que restou, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Um voto de REJEIÇÃO como sempre foi o voto em segundo turno. E justifico, diante do intenso patrulhamento a que estou sendo submetido, de todos os lados, como oficial do Exército que sou, veterano.

Na 2ª Guerra Mundial, o Fascismo, na sua forma alemã do nacional-socialismo, o Nazismo, liderado por Adolf Hitler era o inimigo comum que uniu o Capitalismo e o Comunismo, que superaram suas divergências para enfrentar o PERIGO REAL E IMEDIATO.

Derrotado o inimigo comum, naturalmente se desfez a força de coesão e voltaram a se posicionar em polos antagônicos, gerando a Guerra Fria e, novamente, forças de coesão geraram alianças  militares, a OTAN e o Pacto de Varsóvia, até que, novamente, a derrocada do mundo comunista (queda do Muro de Berlin) com a implosão da URSS, acabou com o de Varsóvia e abrandou a coesão no lado ocidental, mantendo, a duras penas, a OTAN, abrindo espaço para o surgimento dos blocos econômicos que demarcaram o cenário político-econômico das últimas décadas.

Agora, a agressão da Rússia contra a Ucrânia, voltou a gerar forças de coesão fortalecendo a OTAN. E assim a História anda.

Eric Hobsbawn dá um marcante exemplo em “Era dos Extremos”: enquanto milhares de judeus eram cremados nos fornos nazistas, um grupo marginal extremista judeu que lutava na Palestina contra os ingleses (os mesmos que estavam lutando para salvar os judeus dos fornos de cremação) negociava com os nazistas, via Damasco, então sob os franceses de Vichy, esperando que estes os ajudassem no enfrentamento do Mandato Britânico da Palestina, porque este era o PERIGO REAL E IMEDIATO porque tinham a criação do Estado de Israel, como a mais alta prioridade do Sionismo:  um Estado que pudesse receber as levas de imigrantes judeus submetidos à perseguição nazista na Europa. Pois, espantem-se: entre os envolvidos nesta missão dois militantes que acabaram se tornando primeiros-ministros de Israel, Menachem Begin e Yitzhak Shamir. Deu para entender?

Aqui, no Brasil, teremos que eleger o Presidente República, mas absurdamente, a decisão do eleitor ficou reduzida, conforme o todo poderoso capo di tutti capi do Centrão e presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, a uma escolha entre dois caminhos, o MENSALÃO ou o ORÇAMENTO SECRETO (Estadão, editorial, 8/10/2022):  “O povo brasileiro vai escolher se quer orçamento feito pelo relator, distribuído pelos deputados e senadores, ou a volta do mensalão”, declarou. E, continuou, “são as duas maneiras de cooptar apoio no Congresso Nacional. Eu prefiro o orçamento municipalista”. Cooptar o apoio no Congresso Nacional! “Orçamento municipalista”, eufemismo para o Orçamento Secreto, que “acalmou o Congresso”, nas palavras de Bolsonaro, e proporcionou estabilidade política a um presidente acossado por mais de 140 pedidos de impeachment.

Depois de quatro anos de mandato de um sujeito despreparado (Gen. Augusto Heleno: “O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”, “A Tormenta”, Thaís Oyama, p.37), que já tinha sido defenestrado do Exército por ser mentiroso e desleal e que passara as três últimas décadas chafurdando no baixo clero do parlamento, que acenou com a fim da corrupção e consolidação do regime democrático, mas que aplicou o maior estelionato eleitoral da história, naqueles que lutaram, desde 2013, para exorcizar a corrupção e retornar aos trilhos dos princípios republicanos e democráticos, teremos que escolher entre um presidente que busca a reeleição e que assegura ser o Orçamento Secreto o meio de se manter no poder, não tendo resposta para o que Ciro Gomes jogou-lhe na cara, em debate, “A mais grave institucionalização que eu já vi na história da humanidade da corrupção como elemento central do modelo de poder é o orçamento secreto”, e um ex-presidente que patrocinou a roubalheira que pretendíamos exorcizar.

No próximo domingo deveremos decidir entre o que restou, BOLSONARO ou LULA, e não podemos nos omitir, pois está em jogo o nosso futuro. A que ponto chegamos! Decidir sobre CORRUPÇÃO ou DEMOCRACIA!

E não podemos cair na armadilha bolsonariana de escolher com base na CORRUPÇÃO, pois significaria Escolher entre o que roubou menos, a menos que se recorra a eufemismos para escamotear o que fez um sujeito que, exercendo somente cargos públicos, ao longo de sua vida, comprou (ele e a família) 107 imóveis, dos quais 51 imóveis, comprados com DINHEIRO VIVO, R$ 26 milhões. Entre LULA que COMANDou o escândalo da Lava Jato e BOLSONARO QUE PROMETEU ACABAR COM A CORRUPÇÃO, MAS TRANSFORMOU O BRASIL EM UM PAÍS MAIS CORRUPTO, SEGUNDO AVALIAÇÃO DA OCDE.

E a opção não pode ser outra que não seja a DEMOCRACIA, pois sem um Estado Democrático de Direito, impossível se torna o combate à corrupção e os últimos anos comprovam esta assertiva.

Nos anos sujos do Mensalão e da Lava Jato, graças à independência dos Poderes e o pleno desempenho de instituições de Estado, até Lula foi parar na prisão e só lá não ficou pela insensata ambição política da tal República de Curitiba que atropelou o Devido Processo Legal com o projeto de um Estado policial.

E nos anos de Bolsonaro? Como bem diz o recente manifesto de pesquisadores no combate à corrupção, “Bolsonaro não tem compromisso na luta contra a corrupção, a não ser por retórica, e que isso seria evidenciado por sucessivos escândalos de corrupção, alianças com o centrão, suposta interferência política nos órgãos de investigação e na imposição dos sigilos que ameaçariam a transparência”.

Pela sua absoluta incapacidade para exercer um papel de liderança na construção de uma base de apoio parlamentar, opta pela CORRUPÇÃO como meio de se manter no poder, entregando-se para um LEGISTATIVO CORRUPTO que aponta dois caminhos, o MENSALÃO ou o ORÇAMENTO SECRETO. Através deste LEGISTATIVO CORRUPTO, Bolsonaro está maculando a Constituição com uma série PECs.

Bolsonaro busca submeter o JUDICIÁRIO,  aparelhando os tribunais superiores. Um Presidente República que tem a desfaçatez de confessar que seu critério, para escolha de um ministro para as cortes superiores de Justiça, é norteado por “Currículo vale, mas para ser indicado ao STF tem que tomar tubaína comigo”. Agora, repetindo Chávez, Bolsonaro já ensaia aumentar para quinze o colegiado de ministros do STF. E não se engane este Legislativo corrupto, pois, tão logo, Bolsonaro aparelhar o Judiciário e consolidar o aparelhamento das demais instituições de Estado, inclusive as Forças Armadas, a guilhotina será o destino, repito, deste Legislativo corrupto.

A dura realidade, que gente boa insiste em não ver, porque está com a viseira de que Bolsonaro, apesar de todos os seus reconhecidos defeitos, é o único que “pode nos salvar do comunismo”: BOLSONARO ESTÁ PAVIMENTANDO A ESTRADA PARA O FASCISMO, um regime autoritário e boçal que poderá inviabilizar nosso sonho de um Brasil Plural, para todos nós, independente de preconceitos. Bolsonaro "representa uma ameaça concreta e iminente à democracia brasileira".

Esta ameaça de um regime autoritário, fascista, faz com que boa parte da nação priorize a preservação da DEMOCRACIA, a busca da CONCILIAÇÃO (o que se torna impossível com Bolsonaro) e, em torno disso, é que está se formando uma aliança para eleger Lula, o candidato que enfrentará Bolsonaro no 2º turno.

Diante de tudo isso, votarei em Lula, para nos livrar de Bolsonaro porque vejo neste um PERIGO REAL E IMEDIATO contra o Estado Democrático de Direito, cuja preservação, repito, é a base para que possamos construir um Brasil melhor e plural, para todos nós. Depois, pensaremos em Lula, como fizeram os Aliados com Stalin e a sua União Soviética.

Esta decisão é coerente com a minha militância política, nos últimos 35 anos, mesmo enfrentando resistências de toda ordem. Fui o único oficial do Exército que reagiu ao discurso de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988, com um artigo no Estadão, por ter, Ulysses, insultado os militares pelos anos duros do regime militar.

Pelo que consta, somente dois oficiais do Exército foram, até hoje, alvo de editorial no Noticiário do Exército, na ordem de publicação: Jair Bolsonaro (25/2/1988) e Péricles da Cunha (11/7/1991). No meu caso, fui estigmatizado, mas muito me orgulho, pois duvido que não reconheçam que, se tivessem seguido as minhas propostas, teríamos um Brasil melhor.





A propósito, transcrevo a conclusão do texto postado no meu blog, em 9/3/2021, “Lula e Bolsonaro: filhotes da ditadura”, que bastaria para justificar a minha decisão:

Verifica-se que enquanto o sindicalista Lula age na base da pirâmide, sobre a massa trabalhadora, no sentido de conciliar as relações patrões/operariado, o capitão Bolsonaro insufla a base contra o topo da pirâmide, tentando desestabilizar a cadeia de comando. Enquanto aquele é conciliador, este é desagregador. Dizem que Lenin odiava Eduard Bernstein, o líder dos social-democratas alemães, porque este, passou de revolucionário a reformista, graças às concessões que o poderoso movimento operário alemão vinha arrancando da burguesia, enquanto aquele buscava a ruptura com a destruição do capitalismo. Bernstein acreditava que o socialismo seria alcançado pelo capitalismo, não pela destruição do capitalismo. PARADOXALMENTE, O CAPITÃO BOLSONARO AGE COMO LENIN, O COMUNISTA, ENQUANTO O SINDICALISTA LULA, COMO BERNSTEIN, O SOCIAL-DEMOCRATA”.

E para concluir copio dois parágrafos do manifesto de pesquisadores no combate à corrupção, já referido:

“Daqui a dez, trinta, cinquenta anos, os que ainda estivermos vivos poderemos contar com orgulho pros nossos filhos, netos e bisnetos: naquele domingo, 30 de outubro de 2022, eu estava do lado certo. Não era um lado homogêneo, o dos que votaram para salvar o país da catástrofe. Pelo contrário, éramos gente de todos os cantos do espectro político, mas que passamos por cima das nossas diferenças por concordarmos com alguns pontos inegociáveis. Que só poderíamos ter uma vida digna na democracia”.

“Que, numa Terra redonda, a ciência é quem decide que remédio funciona e qual é charlatanice. Que quando centenas de milhares de brasileiros morrem, prestamos as nossas condolências e solidariedade, não os imitamos, às gargalhadas, morrendo por asfixia. Ao decidirmos votar em Lula e Alckmin naquele 30 de outubro não escolhemos uma chapa ou um partido político: participamos de um plebiscito entre a escuridão e a democracia”.

Péricles da Cunha, 22/10/2022

sábado, 16 de outubro de 2021

A MULHER DE LOT

 


Hoje, 18 de outubro, 33 anos atrás, uma atitude tomada que muito me orgulha: fui o único oficial do Exército BRASILEIRO a reagir contra o discurso do todo poderoso Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, na promulgação da Constituição: chamou, todos nós, militares, de facínoras:

A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. (Muito bem. Palmas prolongadas)”.

Isso, na presença de autoridades, do corpo diplomático, das representações estrangeiras .... E DOS CINCO MINISTROS MILITARES, TODOS GENERAIS DE QUATRO ESTRELAS que impassíveis permaneceram.

E reagi com o artigo “A MULHER DE LOT”, publicado em “O Estado de S. Paulo”, 18/10/1988: “O Dr. Ulysses, com toda a sua experiência, ainda não aprendeu a mensagem do Velho Testamento: ‘A mulher de Lot olhou para trás e se converteu numa coluna de sal’.

E mais me orgulho por ter sido coerente com o meu proceder, nestes 33 anos: reagir sem agredir, lançando SEMPRE pontes para a convergência.

Leia a íntegra do artigo:

 

A MULHER DE LOT

O ESTADO DE S. PAULO – ESPAÇO ABERTO – 18/10/2018

 

O Dr. Ulysses, com toda a sua experiência, ainda não aprendeu a mensagem do Velho Testamento: "A mulher de Lot olhou para trás e se converteu numa de sal".

Ao lembrar o caso Rubens Paiva - “A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. (aplausos acalorados)” -, na hora em que o Brasil olhava para o futuro que se descortinava com a promulgação da Constituição, deu a impressão de que discursava, não para a Nação, como o líder maior da Constituinte, mas como o candidato a cortejar aquela minoria radical que, esquecida do paredón, vive deslumbrada a cantar loas ao ditador cubano.

Violências e desrespeitos aos direitos humanos ocorreram no passado recente, mas não é justo pinçar um caso reconhecidamente lamentável e condenável, para avivar feridas que a todos interessas ver cicatrizadas. Por acaso não era também sociedade o pracinha de 18 anos que foi pulverizado por um carro-bomba enquanto guarnecia o Quartel do Ibirapuera? Um jovem totalmente inocente sacrificado por mãos tão assassinas como as que mataram Rubens Paiva.

"A sociedade sempre acaba vencendo”, como afirmou”, mas a inércia e o interesse menor de grupos podem levar a grandes sacrifícios. A sociedade, liderada pelo dr. Ulysses, clamou por “diretas já”, em 1984, enquanto Tancredo Neves costurava um acordo de cúpulas para chegar ao poder sem o voto do povo.

O Estado dilapidou as reservas cambiais recebidas pela Nova República ao usar o Plano Cruzado para fins eleitorais. A sociedade elegeu a bancada majoritária de governadores e constituintes do PMDB e está pagando a conta dos desmandos da economia.

A sociedade elegeu majoritariamente o PMDB para a Constituinte e clamou pelos quatro anos para Sarney. Dr. Ulysses não foi a sociedade ao possibilitar que as burras abarrotadas do Estado neutralizassem seu partido a ponto de permitir que minorias concedessem os cinco anos, frustrando a vontade popular.

Não será avivando feridas do passado que construiremos uma grande nação, não será lembrando a Intentona de 35 ou os momentos difíceis do regime militar que resolveremos nossos problemas. Toda guerra é cruel e, se conseguíssemos filmar somente as ações de um dos lados, qualquer que seja, veríamos as atrocidades cometidas, todas dignas de facínoras.

Pensei que a Constituinte tivesse no ensinado a olhar para a frente, mas o seu presidente deu uma demonstração de que pelo menos os nossos políticos continuam propensos a obsessões retrospectivas, com o futuro limitado à próxima eleição. Talvez esta atitude seja fruto de incertezas; quando não se tem seguro o presente, é difícil pensar no futuro, é mais fácil cair na recriminação mútua. Não se alcança a grandeza buscando explicação para a próxima debilidade. A grandeza se alcança fazendo o difícil e o difícil é evitar o atalho da demagogia e enfrenta o duro caminha por onde só transitam os estadistas.

Olhar para trás quando faltam 135 semanas para entrarmos no século 21 é, no mínimo, uma perda de tempo de que não mais dispomos. Uma das poucas certezas que temos é a de que já nasceu a nossa força de trabalho para o primeiro quarto de século e o seu perfil não é nada promissor. Nossos problemas são tantos e tão complexos que somente serão resolvidos se tivermos a coragem de enfrentá-los olhando sempre para a frente e usando o passado unicamente como subsídio e nunca como fim.

Precisamos de um estadista de porte de um De Gaule que juntou os cacos de uma França mutilada pela guerra, restabeleceu a grandeza nacional e ganhou o reconhecimento de todos os franceses; do porte de um Roosevelt que, recebendo de Hoover o cadáver de uma estrutura econômica aniquilada pela crise de 29, empreitou a ressurreição com um perfil no qual predominava a justiça social; de um estadista com a capacidade de sintetizar as demandas populares e seus anseios, e traduzi-los num projeto nacional que conte com amplo apoio da maioria; que seu comportamento vise exclusivamente ao bem público com o resgate da verdadeira cidadania sem medíocres “opções pelos pobres” e “tudo pelo social”, que não passam de pura retórica a ocultar a verdadeira intenção de manter a pobreza sob controle para projetos eleitorais; que diga aos brasileiros: “ Vamos esquecer as rixas do passado as rixas do passado e vamos lutar para que nunca mais ocorram lutas fraticidas, que a única forma de evitarmos retrocessos é através da criação de uma sociedade justa.

A luta deve ser para que a Constituição-cidadã, a Constituição-coragem do dr. Ulysses perca seus qualitativos e se transforme na Constituição brasileira que orientará o nosso futuro e não adquira o derradeiro e perigoso adjetivo de Constituição-decepção a dar razão aos pregoeiros da Constituição-utopia.

Não percamos mais tempo olhando para trás para que não caiamos no mesmo erro da mulher de Lot.

terça-feira, 9 de março de 2021

Lula e Bolsonaro: filhotes da ditadura


 

No livro 'A Prisioneira', o escritor francês Marcel Proust anotou o seguinte: "Habitualmente detestamos o que nos é semelhante e nossos próprios defeitos vistos de fora nos exasperam. "Bolsonaro e o bolsonarismo detestam Lula e o lulismo. E vice-versa. Mas os dois líderes políticos e seus seguidores vão se transformando gradativamente em extremos que se tocam.

São muitas as diferenças que igualam bolsonaristas e lulistas. Eles estão cada vez mais assemelhados. Uniram-se na desqualificação de Sergio Moro. Irmanaram-se no desprezo à imprensa. Equipararam-se nas desculpas esfarrapadas: "Eu não sabia". Ou "é perseguição política". Nivelaram-se em acordos rasos com o Centrão.

Se um dia se derem conta do papel de idiota que fazem, os adoradores do mito e da divindade petista terão dificuldades para descobrir o que fazer com todo o ódio que estocaram para alimentar suas lacraias interiores. (“Bolsonarismo e lulismo são extremos que se tocam”, Josias de Souza, 5/5/2020)

 

Tomo, como gancho, este comentário de Josias de Souza, para mais um esforço no sentido de desfazer este maniqueísmo que se não extirpado vai nos atrasar, a tal ponto, que tornará quase impossível construir o Brasil melhor, sonho de todos nós.

Esforço, principalmente, para tentar esclarecer gente conhecida e sabidamente bem intencionada, que se tornaram incondicionais adoradores do Mito, evitando que, mais tarde, venham se dar conta do papel de idiotas que estão fazendo e das dificuldades que terão para se desfazer de “todo o ódio que estocaram para alimentar suas lacraias interiores”.

Apesar do maniqueísmo que os dois protagonizam, Lula e Bolsonaro são irmãos, “filhotes da ditadura”, no dizer de Leonel Brizola, sendo um, programado e outro, “por descuido”, como diziam os antigos. Ambos gestados no bojo da abertura política “lenta, gradual e segura”, de Geisel (1974-1979) e que teve, em Golbery do Couto e Silva, seu estrategista.

Este texto vai mostrar que estes dois polos da radicalização foram gestados no regime militar e evoluíram em rotas paralelas, mas convergentes no objetivo: a conquista do poder pelo poder, através da manipulação de massas e a eliminação do inimigo, pela perpetuação do ódio que leva à violência, como solução para eliminação dos obstáculos.  

Os dois sonham com a democracia direta, com o comandamento do Legislativo e do Judiciário, que seriam simplesmente órgãos carimbadores das decisões tomadas pelo Executivo, através da manipulação de massas de manobra, tangidas como gado.

Um parêntesis é necessário para que se caracterize o habitat em que estas criaturas se desenvolveram e se tornaram protagonistas principais do nocivo maniqueísmo que nos atormenta.

Nossas demandas são supridas por meio de estruturas que, invariavelmente, são constituídas de uma cadeia de comando que vai projetar a demanda, suprir os recursos necessários e controlar a sua plena execução pela força produtiva, através de uma interface entre a força produtiva e a cadeia de comando, cuja função é fazer executar as ordens da cadeia de comando e realimentá-la de forma a otimizar a produção.

No meio civil, no que toca à mão-de-obra, nessa interface situa-se o sindicato, enquanto que nas forças armadas, equivale às subunidades (esquadrão, companhia, bateria) que são comandadas por capitão. É o capitão, a interface da tropa (tenente, sargento, cabo, soldado) com a cadeia de comando.

Na visão de Golbery, era necessário evitar um retorno ao cenário que provocou a intervenção militar de 1964, radicalizado por Leonel Brizola e pela agitação da massa trabalhadora, disputada pelo comunismo e pelo trabalhismo.

Segundo Golbery, a reforma partidária pretendida deveria contar com o protagonismo de Brizola, porque ele estava se tornando, fora do país, um mito muito forte, mas, para isso, seria necessário “aparar suas asas”, restringindo sua influência junto à massa trabalhadora. Urgia isolar Brizola e desviar os trabalhadores, tanto da lógica da luta de classes como do obsoleto corporativismo varguista.

Foi neste ambiente que foram gestados estes dois irmãos, Lula e Bolsonaro.


LULA

Lula, em 1968, foi aluno do Iadesil (Instituto Americano de Desenvolvimento do Sindicalismo Livre), escola de doutrinação de liderança sindical, mantido, desde 1963, em São Paulo, pela poderosa central norte-americana AFL-CIO. Cursos desenhados sob medida para parecer de Esquerda, mas, na realidade, para servir ao sistema dominante. Na realidade, Lula foi submetido à uma tremenda lavagem cerebral (brain wash) pelos dois organismos americanos, interessados em ter um aliado em um país como o Brasil.

A aproximação de Lula com os militares se deveu a Paulo Villares, um dos, então, capitães da indústria nacional, amigo e patrão de Lula, depois de ter, este, demonstrado habilidades na condução de uma greve “armada” por Paulo Villares para rescindir um contrato mal feito com a COFAP, em 1973, transformando o que lhe daria grande prejuízo em uma rescisão em que ganhou alguns milhões de dólares.

Depois desse fato, foi, então, Lula apresentado ao General Golbery, em um churrasco, na casa deste, na Granja do Riacho Fundo, na presença de centenas de empresários amigos de Golbery e financiadores do movimento militar de 1964.

Ainda em 1973, o governo militar escolheu Lula para realizar treinamento sob os auspícios da AFL-CIO, com direito a interpretes, na Johns Hopkins University, em Baltimore, Maryland, USA.

Desde o início, Lula demonstrou ser o que o general Golbery queria para comandar o sindicalismo brasileiro: alguém que tivesse a capacidade, repita-se porque importante, de exorcizar das relações de trabalho, tanto a luta de classes como o obsoleto corporativismo varguista. Alguém que tornasse rotina o que Lula fez na greve “armada” pela Villares, em 1973. Para repetir, aqui, o sindicalismo de resultados do poderoso movimento operário alemão.


BOLSONARO

Em 1973, mesmo ano de em que Lula demonstrou sua utilidade, no caso Villares, e foi mandado por Golbery para os Estados Unidos para treinamento, Bolsonaro ingressava na carreira militar sendo declarado oficial, em 1977.

No Exército, Bolsonaro ensaiou desestabilizar a cadeia de comando, naquele episódio em que liderou movimento de reivindicação salarial (1986) que incluiu plano para explodir bombas-relógio em unidades militares do Rio. Submetido a Conselho de Justificação, foi JULGADO CULPADO, POR UNANIMIDADE, porque “MENTIU DURANTE TODO O PROCESSO, quando negou a autoria dos esboços publicados na revista “Veja”, como comprovam os laudos periciais”. Recorreu ao STM, ADMITIU ATOS DE INDISCIPLINA E DESLEALDADE NO EXÉRCITO, foi absolvido por 8x4 e, meses depois, transferido para a reserva por ter sido eleito vereador no RJ.

No Baixo Clero, continuou a liderar movimentos de desestabilização da cadeia de comando, sempre tentando destruir o topo da pirâmide. Agora, como presidente da República, entrou em crise existencial, pois ele é o topo e o que ele sabe fazer é DESESTABILIZAR O TOPO.

Verifica-se que enquanto o sindicalista Lula age na base da pirâmide, sobre a massa trabalhadora, no sentido de conciliar as relações patrões/operariado, o capitão Bolsonaro insufla a base contra o topo da pirâmide, tentando desestabilizar a cadeia de comando. Enquanto aquele é conciliador, este é desagregador.

Dizem que Lenin odiava Eduard Bernstein, o líder dos social-democratas alemães, porque este, passou de revolucionário a reformista, graças às concessões que o poderoso movimento operário alemão vinha arrancando da burguesia, enquanto aquele buscava a ruptura com a destruição do capitalismo. Bernstein acreditava que o socialismo seria alcançado pelo capitalismo, não pela destruição do capitalismo. Paradoxalmente, o capitão Bolsonaro age como Lenin, o comunista, enquanto o sindicalista Lula, como Bernstein, o social-democrata.

sexta-feira, 8 de maio de 2020

O falso inimigo dos tenentes





Nota do autor
Este texto foi escrito em janeiro de 2012

Podemos dizer que integramos a geração dos Tenentes de 64, daquela geração que foi forjada nos anos quentes da Guerra Fria. E esta geração lembra muito a figura do capitão Giovanni Drogo, a figura central do excelente “O deserto dos tártaros”, de Dino Buzzati.
Desde que li esse livro, lá nos anos 80, é que vejo no capitão Drogo o retrato do Tenente de 64. O livro, escrito antes da Segunda Guerra Mundial, conta a desventura do oficial Giovanni Drogo, o qual, aos vinte anos, é nomeado, em seu primeiro posto, para o forte Bastiani, que se ergue imponente e solitário às margens abandonadas do “deserto tártaro”.
Drogo, que espera ficar ali poucos meses, aguardando uma transferência, vê a vida transcorrer sem que sua razão de ser se realize: “transformar-se num soldado verdadeiro, conhecer a glória de participar de uma guerra que, tudo indica, não vai acontecer....".
No romance, o jovem tenente Giovanni Drogo, chega numa manhã de setembro ao seu primeiro posto militar: o Forte Bastiani, para o que deveria ser uma curta temporada de quatro meses e que termina sendo a história de uma vida frustrada.
O jovem tenente Drogo, preso de uma angústia indefinível, quer voltar a sua cidade próxima, chegando mesmo a participar de uma ridícula audiência para transferência, sem êxito; porque há algo indefinível que o força a ficar.
Drogo tinha um sonho, sim, mas nada fez de concreto para realizá-lo. O sonho de um ideal de heroísmo militar, de uma carreira e uma vida inteira dedicada à caserna é dissipado com um dia-a-dia rotineiro – em meio à disciplina e as atividades do quartel – do refeitório ao jogo de cartas e de xadrez etc. E a rotina no forte Bastiani o retém até que a velhice o capture, impotente para reagir ao inimigo real, de forma mais intensa e devastadora do que o invasor que chega: a vida que não se realiza.
O Deserto é o romance de um jovem oficial que passa a vida inteira, frustrado, numa fortaleza de fronteira, esperando o ataque de inimigos que talvez não existam. De um personagem em sua eterna vigília na fortaleza, à espera de um ataque que traga honra e glória.
Este livro, lido há mais de trinta anos, marcou-me muito e traços dele podem ser notados ao longo de tudo que escrevi sobre o papel que nós, militares, deveríamos assumir no pós-regime militar. Como disse um crítico: “O Deserto dos Tártaros é um livro para ou te fazer mudar de vida ou para abandonar essa, dada a profundidade do tema tratado”. Trata-se de uma aguda reflexão sobre a inutilidade do poder. “Afinal, Buzzati nos conta um pouco da vida de todos nós. Você não tem a impressão que, às vezes, está esperando algo acontecer para mudar de vida? Que esse algo está ali, logo ali, virando a esquina, mas você nunca chega à esquina? E que, na verdade, você até sabe disso, mas não quer admitir, que você é o único responsável pelas mudanças?”, continua. Essa a grande lição deste magnífico livro: você é o único responsável pelas mudanças!
De uma crítica, das muitas que colecionei sobre o livro: “O final do livro emociona os que acompanham toda a vida de Drogo dedicada ao forte. De certa forma nos remete aos dias atuais em que muitos se dedicam obstinadamente a objetivos ilusórios, passam sua juventude lutando por um sonho e deixam de viver a vida verdadeiramente.
Depois da leitura podemos nos questionar: o que ando fazendo da minha? Pelo que ando lutando? Em pleno século XXI, se ainda não temos respostas, pelo menos conseguir formular mais claramente nossas perguntas...”.
Assim como Drogo, o jovem Tenente de 64, tinha um sonho bem expresso por um dos integrantes desta geração, na sua despedida do serviço ativo, como oficial general: “A formação da minha geração foi pautada pela constante preparação para o combate. Víamos a possibilidade de emprego assim que saíssemos da Academia”.
Uma espécie de vaidade militar, misturada ao desejo de uma carreira heroica, e ao fascínio impressionante pelas “terras do Norte”, pelo deserto dos Tártaros - selvagem e desolado – molda uma espécie de areia movediça em que o personagem se afunda, lenta e progressivamente, até ao final nada heroico. Tudo conspira para que Drogo fique de olho voltado para o deserto, de onde pode partir o fato que mudará sua vida.
O fascínio impressionante pelas “terras do Norte”, um fascínio pelas guerras dos outros, cujos inimigos e cenários eram e são bem diferentes dos nossos. “Testemunha ocular do planejamento estratégico militar dos EUA, antes e depois do 11 Set 2001. Vi um fantástico estado de prontidão para a guerra”, relembra o general sobre a sua primeira missão nos USA.
Eu tentei fazer com que não nos transformássemos em uma fábrica de Drogos. Um desperdício. Uma geração perdida. Em 1991, fui convidado para fazer uma conferência na IX Conferência Continental da Associação Americana de Juristas, precursor do Fórum Social Mundial: coronel recém punido por entrevista no JB, achavam que estaria ali uma oportunidade para “bater nos milicos”.
Defendi um novo papel, ajustado às nossas demandas e recursos. Mostrei que não tínhamos os bilhões de dólares que o Saddam Hussein havia gastado para montar um exército que acabava de ser triturado na Guerra do Golfo, mas que nada nos impedia de sermos astutos.
Aquela poderosa máquina de guerra dos Estados Unidos dependia da opinião pública americana, dependia dos contribuintes para se mover. Bastaria que não déssemos razões para que fincassem o pé em nossas imensas riquezas minerais, escasseadas com as incertezas do desmanche da URSS. Meio ambiente, índios e narcotráfico, três razões que poderiam sensibilizar os contribuintes americanos a autorizar aventuras em nosso território. Bastavam políticas inteligentes nessas três áreas.
O resto seria se dedicar ao nosso grande inimigo: a miséria. Evitar que se transformasse em combustível para agitação social e para o surgimento desses que aí estão.
Em vez de armamentos modernos, preconizava o emprego da política do “forte apache”, da ideia dos polos do general Rodrigo Otávio, da ocupação dos bolsões de miséria.
Lembro-me que quase fui linchado na tal conferência. Chegaram à conclusão de que eu estava sugerindo abortar movimentos como o dos sem-terra. Acabar com as razões que as ONGs alardeavam pelo mundo para pressionar pela demarcação de reservas indígenas. Reestabelecer o domínio do território sobre bolsões, onde populações vivem sob o domínio do crime organizado, resgatando-as para a cidadania.
Desnecessário provar que teríamos feito uma revolução, a revolução que não fizemos nas décadas anteriores. Teriam, os Tenentes de 64, feito a revolução silenciosa que os Tenentes de 22 não conseguiram.
Por tudo isso, entristeço-me quando vejo que estamos envelhecendo sem ter, pelo menos, encaminhado a construção daquele Brasil dos nossos sonhos de cadetes.
Lamento ver um potencial, como o desta geração de Tenentes de 64, ser desperdiçado na “eterna vigília na fortaleza, à espera de um ataque que traga honra e glória”. Focada no inimigo errado.
No fundo, fica aquela frase do crítico citado lá no início, a tocar a consciência de todos nós: “E que, na verdade, você até sabe disso, mas não quer admitir, que você é o único responsável pelas mudanças”.
Mudanças que não passam por combater comunistas, mas corruptos que, da mesma forma, querem assaltar o Estado, mas para se locupletarem.
No fundo o que este texto deixa é que tanto os Tenentes de 64 como o tenente Drogo desperdiçaram suas vidas porque não souberam mudar de inimigos como aconselhava Roberto Campos (in, “Reflexos do Crepúsculo”); “Saber mudar de inimigos é não só uma receita de sobrevivência como, às vezes, uma receita de sucesso”.

domingo, 25 de agosto de 2019

AMAZÔNIA 4.0: RECONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO AMAZÔNICA (I)




Em janeiro de 2018, tentei apresentar uma proposta para inserir o Clube Militar no debate nacional e comprometer os principais candidatos com assuntos que para nós, militares, são de suma importância: a defesa do Estado Democrático de Direito e de seus fundamentos, cuja pedra angular é a SOBERANIA que estamos perdendo no dia-a-dia, pois sem ela de nada valem os demais fundamentos (art.1º), cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo político.

Salientava que muitos são os déficits de soberania que estão silenciosamente solapando as bases sobre as quais sonhamos construir uma poderosa nação, um Brasil melhor para nós e para as futuras gerações e que é obrigação nossa, militares, identificá-los, mostrá-los para a Nação e participar do esforço para eliminá-los.
Este o papel do Clube Militar, compatível com a sua história e que o recolocaria na mesa de debates nacional como um protagonista, com a relevância ímpar de buscar o comprometimento de todos os candidatos com o combate a estes déficits de soberania.

A proposta previa um Ciclo de Debates sobre a Soberania Nacional com reuniões nas principais capitais do país, nos meses de março, abril e maio.

Durante o mês de junho de 2018, uma Comissão de Sistematização, elaboraria o documento Compromissos com a Soberania Nacional que seria a agenda para o debate individual com os principais candidatos, ao longo dos meses de julho e agosto.

Para este Ciclo de Debates sobre a Soberania Nacional, além de militares, seriam convidadas lideranças expressivas do meio empresarial, universitário e da sociedade, bem como, autoridades civis e militares. O sucesso destas reuniões estaria na absoluta neutralidade, em relação às diversas correntes que disputarão a eleição presidencial, deixando, sempre, bem claro que o objetivo do Clube Militar é debater questões de soberania nacional, passando longe de qualquer demanda corporativa.
Logicamente, a proposta não recebeu a mínima atenção, pois o foco estava na formação de uma grande bancada fardada no Legislativo, estadual e federal.
Entre os temas propostos constava a Recontextualização da Questão Amazônica que, dada a atualidade do assunto está sendo novamente postado, separadamente.

PROJETO NACIONAL PARA A AMAZÔNIA

Passamos nós, militares, os últimos trinta anos, sentados à margem do debate nacional sobre a questão amazônica, movido por dois paradigmas antagônicos: a conservação total e irrestrita, com a criação de grandes áreas protegidas legalmente; ou a exploração por meio da transformação da mata em commodities, seja por meio da agricultura ou de outras atividades comerciais. E, repita-se, o conselho de Felipe Gonzáles: se quisermos modificar esta realidade deveremos nos dispor a nos molhar porque, nada adiantará ficarmos à margem do debate, indignados com a demarcação de imensas reservas indígenas orquestradas por interesses escusos que, a título de uma preservação da intocabilidade cultural, sacrifica os povos da floresta e nos causa profundos déficits de soberania.

Não podemos nos esquecer de que possuímos quase 70% da maior floresta tropical e bacia hidrográfica do mundo, que conta com 7,8 milhões de quilômetros quadrados, distribuídos entre nove países, sendo um deles uma potência nuclear, de fora do continente. E que de esta imensa área dependerá o futuro do Brasil, da América do Sul e do planeta.


Depende unicamente de nós, brasileiros, o papel que exerceremos no sistema de poder mundial: de um dos principais protagonistas, como uma nação rica, principal agente da integração regional e estabilizador das aflições da humanidade com relação à mudança climática, meio-ambiente, energia e água. Ou de um coadjuvante país periférico com restrições, até no exercício pleno da soberania.
No vídeo, de 6/8/2017, o deputado Jair Bolsonaro, ao abordar o seu projeto para a floresta amazônica, faz uma projeção do que nos ameaça: “Se nós levantarmos aqui o fuzil e falar ‘a Amazônia é nossa’, nós vamos perder a Amazônia. A Amazônia, hoje em dia, não é mais nossa, pelas suas riquezas minerais, biodiversidade, água potável, espaço vazio e etc. Temos que nos aproximar de países democráticos, de poderio nuclear e influência no mundo, para poder explorar em parceria essa região o que é muito mais producente e lucrativo para nós do que nós continuarmos a fazer uma exploração predatória para as nossas riquezas”. Esta, a visão de um dos nossos, que é candidato à presidência da República.
“O mais grave do que a ameaça internacional sobre a Amazônia é o quase total desconhecimento das lideranças nacionais e da sociedade brasileira em relação à Amazônia. O resultado é que a discussão sobre a Amazônia muitas vezes é superficial e equivocada, fruto do desconhecimento da realidade como ela é”, constata Virgílio Viana, Ph.D. pela Universidade de Harvard, Livre Docente pela USP, ex-secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas e Superintendente Geral da Fundação Amazonas Sustentável, no excelente artigo A Amazônia e o interesse nacional (revista Política Externa, Mai/2011).

O que importa é que não podemos perder mais tempo, pois estamos correndo sério risco de perdermos o comandamento sobre algo que está em nossas mãos.

Em setembro/2016, na revista acadêmica "Proceedings of the National Academy of Sciences", foi publicado o estudo “O uso de terra e riscos de mudança climática na Amazônia e a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento sustentável”, que propõe a criação de um “Vale do Silício amazônico” para se pesquisar matérias-primas que devem impulsionar a quarta revolução industrial o que vem reforçar a sugestão de Virgílio Viana ( A Amazônia e o interesse nacional, Política Externa, Mar/Abr/Mai 2011): transformar a riqueza da Amazônia em fonte de recursos para erradicar a pobreza na região, valorizar a floresta em pé, reduzir o desmatamento e ampliar as vantagens competitivas internacionais do Brasil.

Este estudo repercutiu na alemã Deutsche Welle, de 21/9/2016: para o empreendedor peruano Juan Carlos Castilla-Rubio, fundador da Space Time Ventures, incubadora de empresas de tecnologia e que teve a iniciativa de lançar a Amazon Third Way (A3W), a Amazônia é o próximo centro de inovações do mundo, mas ainda é cedo para dizer se a floresta tropical será tomada por laboratórios de alta tecnologia. "Ainda não sabemos como isso vai acontecer exatamente, é um tema que vai durar 20 anos ou mais. Mas sabemos que a capacidade e conhecimento local precisam ser reforçados, e muito", comenta Castilla-Rubio, que compara o nível de dificuldade do projeto "à ida do homem à Lua".

O objetivo da proposta deste empreendedor peruano é mapear os ativos biológicos da Amazônia, registrar e certificar essa propriedade intelectual usando plataformas abertas, sistematizar os direitos e obrigações associados a essas informações e desenvolver um marketplace global, no estilo “Ebay”, de forma a reduzir o custo de pesquisa e transação dessa propriedade intelectual. Esses dados irão fomentar o desenvolvimento de uma miríade de tecnologias, incluindo novas estruturas têxteis, formas alternativas de produção de energia, sensores, algoritmos de inteligência artificial, tecnologias de sequestro de carbono, entre outras.

“Existem cerca de 285 mil produtos derivados da biodiversidade mundial, mas só conseguimos sintetizar 10 mil deles”, afirma Castilla-Rubio. Amazônia concentra 25% da biodiversidade do planeta. A questão é que governos sempre relutaram em abrir esse banco de dados, por medo da chamada pirataria biológica. Mas, segundo o empreendedor, isso, na verdade, criaria um mercado capaz de financiar as pesquisas e a preservação da floresta.

Acrescenta a Deutsche Welle que nesta chamada "terceira via", a proposta dos cientistas enxerga a AMAZÔNIA COMO UM PATRIMÔNIO BIOLÓGICO GLOBAL, que pode impulsionar a nova revolução movida a inteligência artificial e tecnologias que "imitam" a natureza –o biomimetismo. Desvendar de que plantas e animais são feitos, como organismos se locomovem e percebem o ambiente, por exemplo, são a chave para criação de materiais, sensores e até robôs do futuro.

Não podemos nos esquecer do detalhe: Castilla-Rubio é peruano e seu país detém 13% deste condomínio amazônico.

Vale transcrever trechos do excelente “A Amazônia e o interesse nacional”:

a)  É tempo de o Brasil rever o rumo da sua política externa e pensamento estratégico no tocante à Amazônia. A Amazônia é um dos principais ativos estratégicos do país no século 21, mas estamos presos a velhos paradigmas do século passado. Isso tem impedido ao Brasil um posicionamento mais sofisticado e estratégico nos diversos fóruns onde se formata os instrumentos de regramento internacional. Necessitamos uma visão mais contemporânea do que vem a ser o interesse nacional relacionado com a Amazônia.

b)  É necessário revisitar os pressupostos e paradigmas que serviram de base para a formulação da política externa do Brasil em relação à Amazônia. Está em risco a soberania nacional sobre a Amazônia? O interesse e a cobiça externa justificariam uma ocupação militar da região por potências ou organismos internacionais? Devemos defender nosso direito de desmatar para desenvolver? A quem interessa desmatar: ao Brasil ou a alguns poucos brasileiros? Manter a floresta em pé é bom para o Brasil? Devemos ser contra a ligação entre a Amazônia e o tema das mudanças climáticas globais? Estamos tratando adequadamente os assuntos com nossos países vizinhos que fazem parte da Amazônia continental?

c)  Um dos alicerces do pensamento tradicional sobre a Amazônia é a suposição de que haveria planos, complôs e estratégias em curso para uma ocupação militar e política da Amazônia brasileira por potências estrangeiras ou organismos internacionais.

d)  Obviamente, não devemos negligenciar os interesses e movimentos de outros países na região. Temos que estar alertas, inclusive com nossos vizinhos. Felizmente, os militares desempenham com competência sua função de guardiões de nossas fronteiras. Identificar os inimigos certos e nossas metas estratégicas é essencial para vencermos a batalha contemporânea pela defesa da Amazônia.

e)  É tempo de não basear o pensamento estratégico brasileiro na tese da existência de uma conspiração em curso com o objetivo de internacionalizar a Amazônia, pois alegados interesses econômicos de outros países sobre os recursos naturais da Amazônia não precisam de tropas ou domínio militar estrangeiro para usufruir das riquezas da região. Não se justifica o custo e o ônus de uma ocupação militar para garantir o acesso aos recursos naturais da Amazônia.

Nesta proposta de Terceira Via está a grande oportunidade para assumirmos a liderança e fazermos uma recontextualização, deixarmos de lado velhos paradigmas e estabelecermos novas bases para uma estratégia nacional que oriente um projeto nacional para a Amazônia.

O general Villas Bôas, comandante do Exército, em artigo de anos atrás, “Amazônia - desafios e soluções” (Vermelho, 11/9/2015), pauta um debate que seria muito importante que fosse provocado pelo Clube Militar, neste ano eleitoral: “O momento em que vivemos é crucial, pois algumas das escolhas que necessitamos fazer acarretarão consequências possivelmente irreversíveis, legando às gerações futuras os benefícios ou os prejuízos delas decorrentes. A ocupação seguirá sendo extensiva e empreendida livremente como consequência natural de fluxos migratórios ou será conduzida pelo Estado? Privilegiaremos a preservação do meio ambiente ou colocaremos o ser humano como centro e razão de ser dos processos? Seria possível obter o equilíbrio entre ambas as condutas? Os brasileiros de origem indígena serão protagonistas ou permanecerão à margem dos processos? Que prioridade terá a exploração dos recursos naturais? Prevalecerão os interesses nacionais ou permitiremos que posturas internacionalistas a eles se sobreponham? Chamaremos a participar os demais países condôminos da enorme bacia, inclusive no que diz respeito às ações relativas à segurança e ao combate aos ilícitos? Em suma, que modelo a sociedade brasileira pretende adotar para balizar o enfrentamento dessa jornada histórica? É essencial que a nação brasileira se conscientize da grandeza desse desafio, tornando-se necessário que se busque visualizar o que, concretamente, a Amazônia representa para o Brasil e que papel no futuro lhe está destinado cumprir”.

O fundamental, segundo A Amazônia e o interesse nacional, “é a urgência de substituir os velhos paradigmas que ainda influenciam a formulação de políticas nacionais e internacionais relevantes para a Amazônia. Com os conceitos e paradigmas devidamente realinhados, faltará apenas a vontade política e a mobilização da sociedade brasileira entorno destes enormes desafios. O tempo urge diante da gravidade do processo de mudanças climáticas globais. Ainda há tempo”.

quinta-feira, 28 de março de 2019

SONHOS E FRUSTRAÇÕES DE UM TENENTE DE 64 (Onde foi que erramos?)




Nota do autor:
este texto foi escrito em março de 2014

Uma república dominada por sindicalistas pelegos somente não foi instalada em 1964 por duas razões: falta de um líder carismático e a pronta reação das Forças Armadas.
Passado meio século constatamos que uma república dominada por sindicalistas já foi instalada no país por duas razões: a existência de um líder carismático (único gerado pelo regime militar) e a omissão dos militares. A mesma república sindicalista, porém, com uma corrupção muito mais refinada, suportada por uma sólida aliança com o grande capital e garantida por uma base eleitoral mantida pelos cofres públicos.
Onde foi que erramos, a ponto de termos transformado em frustrações os sonhos de um jovem tenente que chegava à tropa, juntamente com 356 companheiros, pensando em ajudar a construir um Brasil melhor?
Uma visão retrospectiva mostra que a intervenção que os militares fizeram em 64 foi para garantir que os interesses superiores da nação não fossem sobrepostos pelos interesses escusos de governantes que estavam na iminência de assumir graves compromissos à revelia da nação, pretendendo interpretar despoticamente o interesse nacional que, no contexto de uma democracia, deve corresponder essencialmente ao interesse real da população, e não aos interesses de grupos dominantes, que não atenda necessariamente às aspirações e interesses legítimos dos diferentes estratos da sociedade.
E o interesse dos grupos governantes apontava para a instalação de uma república sindicalista que, como um câncer, espalharia metástases por todo o Estado e a sociedade, para controlar aquele e subjugar esta. O rumo desta república sindicalista seria dado pela resultante da conjugação de forças que transformariam o Brasil em algo parecido com a república bolivariana em que Chávez transformou a Venezuela.
Reconhecemos que o interesse nacional não pode ser definido como construção intelectual de um grupo, mas, também, que na conjuntura que vivíamos nos anos 60, o Brasil era dividido (como ainda é hoje) em uma maioria desorganizada e uma minoria organizada, onde se conjugam grupos de interesse, entre os quais as Forças Armadas, o grupo que, reconhecidamente, não só é o que mais reflete o perfil da nação como o que tem a consciência mais nítida do que corresponde aos interesses permanentes da nação, aqueles que constituem o núcleo irredutível do conceito de interesse nacional: a sobrevivência nacional, a integridade territorial, a independência, a autodeterminação e a segurança nacional, o bem-estar da população, a defesa da identidade cultural, a preservação dos valores nacionais, etc.
Óbvio que erramos, mas onde foi que erramos, a ponto de transformar sonhos em frustrações?
Erramos porque não tivemos a coragem de fazer a intervenção que a situação exigia e que a sociedade imaginava que fizéssemos. É nossa a responsabilidade porque a sociedade nos deu a oportunidade de corrigir o rumo e desperdiçamos quem sabe, a melhor oportunidade para que nos transformássemos na grande nação com que sonhávamos.
Não vislumbramos a complexidade do problema. Preocupamo-nos somente com o que víamos do iceberg, a Guerra Fria e seus reflexos internos. E não nos preparamos para enfrentar a sua parte submersa, imensamente maior. Não preparamos lideranças à altura dos desafios, gente capaz de praticar uma política de nação, de penetrar no imaginário e nas expectativas das pessoas para delas extrair a síntese das suas aspirações. Contemporizamos com uma política cheia de vícios simplesmente para manter uma caricatura de democracia. Deixamos hibernando uma corrupção que agora ameaça a própria existência do Estado com escândalos e roubalheiras por todos os lados.
Em vez da necessária cirurgia, uma envergonhada intervenção que se traduziu na entrega da Economia para o liberalismo econômico de economistas liderados por Eugênio Gudin, a Política para os velhos caciques políticos, inclusos os mais retrógrados e corruptos coronéis políticos do Norte e Nordeste, reservando para os militares a tarefa de garantir, através do autoritarismo, que estas áreas operassem sem qualquer contestação e a missão de enfrentar a subversão. Não fomos capazes de visualizar a trajetória da sociedade brasileira para preparar o seu futuro.
A criação daquela nação que todos sonhávamos passava obrigatoriamente pela definição de um projeto nacional forjado pela participação organizada de todos os brasileiros, o que somente seria alcançado através de uma profunda reforma estrutural que permitisse, no longo prazo, a criação de um potencial cívico capaz de gerar um projeto de nação forjado por todos os brasileiros, ou seja, a consolidação de um pleno e autossustentado estado democrático.
Para que não fossem mais necessárias intervenções como a de 64 era necessário sermos duros para mudar o rumo de variáveis importantes para o desenvolvimento social. Nosso erro foi usar mal a força que nos autorizaram empregar que se resumiu a um autoritarismo político que foi mais usado para manter um arremedo de democracia –que hoje todos chamam de ditadura- e que faltou para as reformas estruturais que estão atrasando o nosso desenvolvimento.
Autoritarismo político que serviu para a construção de um bolo que acabou sendo servido somente às elites, mas que não foi usado para ocupar de forma ordenada a Amazônia, para impor o projeto Calha Norte como prioritário para a segurança nacional o que teria edificado a nossa tranquilidade naquela imensa fronteira amazônica e para estabelecer uma política para a população indígena norteada por Rondon e não por antropólogos comandados por interesses estrangeiros. Omissões que provocam sérias ameaças à integridade nacional.
Autoritarismo político que não foi usado para criar uma política do cidadão que começasse com um planejamento familiar baseado na paternidade responsável - essencial para a interrupção no curto prazo do processo de geração de miséria- e que continuasse com a criação de um sistema nacional de saúde pública e de educação, para transformar, em uma geração, o brasileiro em um cidadão, capaz de forjar o tão necessário projeto nacional.
Autoritarismo político que faltou para enfrentar a oligarquia dominante e dar mais ousadia na implementação do excelente Estatuto da Terra que certamente transformaria o Brasil no celeiro do mundo e teria desarmado essa bomba chamada MST que mais prejuízos e frustrações causou do que encaminhar uma moderna reforma agrária. Faltou ousadia para decretar índices de produção para as terras agricultáveis, sobre os quais seriam cobrados os tributos, o imposto da terra, fixo, de acordo com o potencial estabelecido, o que premiaria os produtivos e inviabilizaria a posse de terras improdutivas. As terras privadas seriam respeitadas sendo, ao longo do tempo e sem conflitos, consolidadas as produtivas e sendo dilapidadas, pelos impostos, as improdutivas. As terras públicas continuariam públicas e arrendadas pelo pagamento do Imposto da Terra. O Estado ficaria com o papel de indutor da produção primária. Teríamos feito uma inédita revolução agrícola com uma revisão fundiária que, sem violência, corrigiria injustiças do passado. Teríamos tirado, daqueles que só visam à agitação social, a sua maior bandeira. Teríamos dado um exemplo para o mundo e nos tornado o celeiro do planeta, mas fomos incapazes de dobrar os latifundiários que dominavam a ARENA dos grotões, de onde vinham os votos para suplantar os que os grandes centros despejavam no MDB. Teríamos reduzido os efeitos do desordenado êxodo rural e a criação de bolsões de miséria nos grandes centros, origem de uma série de problemas dos quais, o maior, foi a sua transformação em cidadelas do tráfico.
Faltaram autoritarismo e grandeza política para quebrar a espinha dorsal da corrupção e criar as bases do verdadeiro federalismo, invertendo o fluxo dos recursos públicos e declarando o município como o único arrecadador de impostos e centro da geração da cidadania e da administração das coisas públicas. O município como único arrecadador de tributos e pagador de um tributo federal e outro estadual, para custear os respectivos orçamentos. Esta inversão feriria de morte a corrupção endêmica que desvia uma parcela razoável dos orçamentos público e criaria as bases para o domínio público da respública, sonho desde os tempos da Ágora de Atenas.
Faltaram autoritarismo e grandeza política, também, para facilitar o surgimento de uma geração de líderes, capaz de dirigir essa grande nação. Ao contrário, forjaram um bando de eunucos que navegam pela bússola dos interesses daqueles que os financiam ou que os garantem no poder. Faltam-nos líderes em todas as áreas. Este, um dos maiores erros estratégicos dos militares.
Faltou autoritarismo político para fazer uma profunda reforma na máquina estatal, para extirpar dela o vírus da corrupção, para criar um Estado moderno, operado por agentes públicos capacitados e preocupados unicamente com o bem público. Para demonstrar “austeridade democrática”, cortamos na própria carne e deixamos correr solto o resto, permitindo que se criassem e se enraizassem as distorções absurdas em todos os níveis na administração pública que inviabilizam uma reforma séria na máquina estatal. A tal “cota de sacrifício” que nos impusemos, nos condenou a sermos os primos pobres da República com a agravante de não podermos reclamar, pois fomos nós mesmos os autores. Em vez de criar, logo no início, uma política única de remuneração para os servidores públicos com um escalonamento vertical único para todos os três poderes, autarquias e estatais, uma Matriz Salarial Única que envolvesse todos os Poderes, executando as “cirurgias necessárias” nos direitos adquiridos, permitiram que se consolidasse um absurdo desalinhamento que acabou sendo sacramentado com a CF/1988.
Faltou autoritarismo e a visão de estadista para fazer uma revolução na Saúde Pública e na Educação de Base, sabidamente áreas básicas para qualquer projeto de nação e cuja implementação exige muita energia e determinação. Perdemos tempo com Mobral e batendo boca com estudante universitário enquanto devíamos ter focado nosso esforço para interromper o processo de geração de miséria.
Passados cinquenta anos reconhecemos que cicatrizes ficaram, mas também reconhecemos que, sem a Revolução de 64, o Brasil seria, hoje, mais do que uma grande Cuba, seria uma União Soviética porque contagiaria toda a América Latina. Basta ver os amores daqueles que foram por nós contidos em 64 e que hoje nos governam.
O que aconteceu no regime militar foi uma guerra suja que, se descontextualizada, nada mais é do que uma sucessão de atrocidades. Omissões -e mesmo fraquezas- dos chefes militares permitiram que aqueles duros tempos fossem reduzidos a um golpe de militares insuflados pelos Estados Unidos para reprimir inocentes patriotas que só queriam implantar no Brasil uma democracia quando a realidade é bem outra, pois se tratava de gente treinada e suportada pela União Soviética e seus satélites -que cometeram os mesmos ou até mais desatinos que agora acusam os militares- com um objetivo bem claro: transformar o Brasil em uma grande Cuba.
Esta, a visão retrospectiva de um tenente de 64 que sonhou, se frustrou, mas que nunca perdeu a esperança de ver a nação pacificada para que juntos construamos um Brasil melhor.
Péricles da Cunha
(31/3/2014)