Sempre
justifiquei minhas decisões e é o que faço, dias antes de uma das mais
importantes eleições da nossa história.
A
História mostra que existem valores que, quando ameaçados, levam, grupos
antagônicos a abafar suas divergências e a potencializar suas convergências
para gerar forças de coesão, capazes de
formar alianças para enfrentar o inimigo comum, o perigo real e imediato, que, depois de
destruído ou neutralizado, esvaem-se.
E
o PERIGO REAL E IMEDIATO que ameaça o nosso Estado Democrático de Direito é o Bolsonarismo
Fascista cujo ícone é o presidente Jair Bolsonaro, por isso votarei no que
restou, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Um voto de REJEIÇÃO como
sempre foi o voto em segundo turno. E justifico, diante do intenso
patrulhamento a que estou sendo submetido, de todos os lados, como oficial do
Exército que sou, veterano.
Na
2ª Guerra Mundial, o Fascismo, na sua forma alemã do nacional-socialismo, o
Nazismo, liderado por Adolf Hitler era o inimigo comum que uniu o Capitalismo e
o Comunismo, que superaram suas divergências para enfrentar o PERIGO REAL E
IMEDIATO.
Derrotado
o inimigo comum, naturalmente se desfez a força de coesão e voltaram a se
posicionar em polos antagônicos, gerando a Guerra Fria e, novamente, forças de
coesão geraram alianças militares, a
OTAN e o Pacto de Varsóvia, até que, novamente, a derrocada do mundo comunista
(queda do Muro de Berlin) com a implosão da URSS, acabou com o de Varsóvia e
abrandou a coesão no lado ocidental, mantendo, a duras penas, a OTAN, abrindo
espaço para o surgimento dos blocos econômicos que demarcaram o cenário
político-econômico das últimas décadas.
Agora,
a agressão da Rússia contra a Ucrânia, voltou a gerar forças de coesão
fortalecendo a OTAN. E assim a História anda.
Eric
Hobsbawn dá um marcante exemplo em “Era dos Extremos”: enquanto milhares de
judeus eram cremados nos fornos nazistas, um grupo marginal extremista judeu que
lutava na Palestina contra os ingleses (os mesmos que estavam lutando para
salvar os judeus dos fornos de cremação) negociava com os nazistas, via
Damasco, então sob os franceses de Vichy, esperando que estes os ajudassem no
enfrentamento do Mandato Britânico da Palestina, porque este era o PERIGO
REAL E IMEDIATO porque tinham a criação do Estado de Israel, como a mais alta
prioridade do Sionismo: um Estado que pudesse receber as levas de imigrantes judeus submetidos à
perseguição nazista na Europa. Pois, espantem-se: entre os envolvidos
nesta missão dois militantes que acabaram se tornando primeiros-ministros de
Israel, Menachem Begin e Yitzhak Shamir. Deu para entender?
Aqui, no Brasil, teremos que eleger o Presidente
República, mas absurdamente, a decisão do eleitor ficou reduzida, conforme o
todo poderoso capo di tutti capi do Centrão e presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira, a uma escolha entre dois caminhos, o MENSALÃO ou o
ORÇAMENTO SECRETO (Estadão, editorial, 8/10/2022): “O povo brasileiro vai escolher se quer
orçamento feito pelo relator, distribuído pelos deputados e senadores, ou a
volta do mensalão”, declarou. E, continuou, “são as duas maneiras de cooptar
apoio no Congresso Nacional. Eu prefiro o orçamento municipalista”. Cooptar o
apoio no Congresso Nacional! “Orçamento municipalista”, eufemismo para o
Orçamento Secreto, que “acalmou o Congresso”, nas palavras de Bolsonaro, e
proporcionou estabilidade política a um presidente acossado por mais de 140
pedidos de impeachment.
Depois
de quatro anos de mandato de um sujeito despreparado (Gen. Augusto Heleno: “O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”,
“A Tormenta”, Thaís Oyama, p.37), que já tinha sido defenestrado do Exército
por ser mentiroso e desleal e que passara as três últimas décadas chafurdando
no baixo clero do parlamento, que acenou com a fim da corrupção e consolidação
do regime democrático, mas que aplicou o maior estelionato eleitoral da
história, naqueles que lutaram, desde 2013, para exorcizar a corrupção e
retornar aos trilhos dos princípios republicanos e democráticos, teremos que escolher entre um presidente que
busca a reeleição e que assegura ser o Orçamento Secreto o meio de se manter no
poder, não tendo resposta para o que Ciro Gomes jogou-lhe na cara, em
debate, “A mais grave
institucionalização que eu já vi na história da humanidade da corrupção como
elemento central do modelo de poder é o orçamento secreto”, e um
ex-presidente que patrocinou a roubalheira que pretendíamos exorcizar.
No próximo domingo deveremos decidir entre
o que restou, BOLSONARO ou LULA, e não podemos nos omitir, pois está em jogo o
nosso futuro. A que ponto chegamos! Decidir sobre CORRUPÇÃO ou DEMOCRACIA!
E não podemos cair na armadilha
bolsonariana de escolher com base na CORRUPÇÃO, pois significaria Escolher entre o que roubou menos, a menos que
se recorra a eufemismos para escamotear o que fez um sujeito que, exercendo
somente cargos públicos, ao longo de sua vida, comprou (ele e a família) 107
imóveis, dos quais 51 imóveis, comprados com DINHEIRO VIVO, R$ 26 milhões.
Entre LULA que COMANDou o escândalo da
Lava Jato e BOLSONARO QUE PROMETEU ACABAR COM A CORRUPÇÃO, MAS
TRANSFORMOU O BRASIL EM UM PAÍS MAIS CORRUPTO, SEGUNDO AVALIAÇÃO DA OCDE.
E a opção não pode ser outra que não seja
a DEMOCRACIA, pois sem um Estado Democrático de Direito, impossível se torna o
combate à corrupção e os últimos anos comprovam esta assertiva.
Nos anos sujos do Mensalão e da Lava Jato,
graças à independência dos Poderes e o pleno desempenho de instituições de
Estado, até Lula foi parar na prisão e só lá não ficou pela insensata ambição
política da tal República de Curitiba que atropelou o Devido Processo Legal com
o projeto de um Estado policial.
E nos anos de Bolsonaro? Como bem diz o recente
manifesto de pesquisadores no combate à corrupção, “Bolsonaro não tem
compromisso na luta contra a corrupção, a não ser por retórica, e que isso
seria evidenciado por sucessivos escândalos de corrupção, alianças com o
centrão, suposta interferência política nos órgãos de investigação e na
imposição dos sigilos que ameaçariam a transparência”.
Pela sua absoluta incapacidade para
exercer um papel de liderança na construção de uma base de apoio parlamentar,
opta pela CORRUPÇÃO como meio de se manter no poder, entregando-se para um
LEGISTATIVO CORRUPTO que aponta dois caminhos, o MENSALÃO ou o ORÇAMENTO
SECRETO. Através deste LEGISTATIVO CORRUPTO, Bolsonaro está maculando a
Constituição com uma série PECs.
Bolsonaro busca submeter o JUDICIÁRIO, aparelhando os tribunais superiores. Um Presidente
República que tem a desfaçatez de confessar que seu critério, para escolha de
um ministro para as cortes superiores de Justiça, é norteado por “Currículo vale, mas para ser indicado ao STF
tem que tomar tubaína comigo”. Agora, repetindo Chávez, Bolsonaro já
ensaia aumentar para quinze o colegiado de ministros do STF. E não se engane
este Legislativo corrupto, pois, tão logo, Bolsonaro aparelhar o Judiciário e
consolidar o aparelhamento das demais instituições de Estado, inclusive as
Forças Armadas, a guilhotina será o destino, repito, deste Legislativo
corrupto.
A dura realidade, que gente boa insiste em
não ver, porque está com a viseira de que Bolsonaro, apesar de todos os seus
reconhecidos defeitos, é o único que “pode nos salvar do comunismo”: BOLSONARO
ESTÁ PAVIMENTANDO A ESTRADA PARA O FASCISMO, um regime autoritário e boçal que
poderá inviabilizar nosso sonho de um Brasil Plural, para todos nós,
independente de preconceitos. Bolsonaro
"representa uma ameaça concreta e iminente à democracia brasileira".
Esta ameaça de um regime autoritário,
fascista, faz com que boa parte da nação priorize a preservação da DEMOCRACIA,
a busca da CONCILIAÇÃO (o que se torna impossível com Bolsonaro) e, em torno
disso, é que está se formando uma aliança para eleger Lula, o candidato que
enfrentará Bolsonaro no 2º turno.
Diante
de tudo isso, votarei em Lula, para nos livrar de Bolsonaro porque vejo neste um
PERIGO REAL E IMEDIATO contra o Estado Democrático de Direito, cuja preservação,
repito, é a base para que possamos construir um Brasil melhor e plural, para
todos nós. Depois, pensaremos em Lula, como fizeram os Aliados com Stalin e a
sua União Soviética.
Esta
decisão é coerente com a minha militância política, nos últimos 35 anos, mesmo
enfrentando resistências de toda ordem. Fui o único oficial do Exército que
reagiu ao discurso de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988,
com um artigo no Estadão, por ter, Ulysses, insultado os militares pelos anos
duros do regime militar.
Pelo
que consta, somente dois oficiais do Exército foram, até hoje, alvo de
editorial no Noticiário do Exército, na ordem de publicação: Jair Bolsonaro (25/2/1988)
e Péricles da Cunha (11/7/1991). No meu caso, fui estigmatizado, mas muito me
orgulho, pois duvido que não reconheçam que, se tivessem seguido as minhas
propostas, teríamos um Brasil melhor.
A
propósito, transcrevo a conclusão do texto postado no meu blog, em 9/3/2021, “Lula
e Bolsonaro: filhotes da ditadura”, que bastaria para justificar a minha
decisão:
“Verifica-se que
enquanto o sindicalista Lula age na base da pirâmide, sobre a massa
trabalhadora, no sentido de conciliar as relações patrões/operariado, o capitão
Bolsonaro insufla a base contra o topo da pirâmide, tentando desestabilizar a
cadeia de comando. Enquanto aquele é conciliador, este é
desagregador. Dizem que Lenin odiava Eduard Bernstein, o líder dos
social-democratas alemães, porque este, passou de revolucionário a reformista,
graças às concessões que o poderoso movimento operário alemão vinha arrancando
da burguesia, enquanto aquele buscava a ruptura com a destruição do
capitalismo. Bernstein acreditava que o socialismo seria alcançado pelo capitalismo,
não pela destruição do capitalismo. PARADOXALMENTE,
O CAPITÃO BOLSONARO AGE COMO LENIN, O COMUNISTA, ENQUANTO O SINDICALISTA LULA,
COMO BERNSTEIN, O SOCIAL-DEMOCRATA”.
E para concluir copio dois parágrafos do manifesto de
pesquisadores no combate à corrupção, já referido:
“Daqui a dez, trinta, cinquenta anos, os que ainda estivermos
vivos poderemos contar com orgulho pros nossos filhos, netos e bisnetos: naquele
domingo, 30 de outubro de 2022, eu estava do lado certo. Não era um lado
homogêneo, o dos que votaram para salvar o país da catástrofe. Pelo contrário,
éramos gente de todos os cantos do espectro político, mas que passamos por cima
das nossas diferenças por concordarmos com alguns pontos inegociáveis. Que só
poderíamos ter uma vida digna na democracia”.
“Que, numa Terra redonda, a ciência é quem decide que remédio
funciona e qual é charlatanice. Que quando centenas de milhares de brasileiros
morrem, prestamos as nossas condolências e solidariedade, não os imitamos, às
gargalhadas, morrendo por asfixia. Ao decidirmos votar em Lula e Alckmin
naquele 30 de outubro não escolhemos uma chapa ou um partido político:
participamos de um plebiscito entre a escuridão e a democracia”.
Péricles da Cunha, 22/10/2022