segunda-feira, 15 de maio de 2023

O PERIGO REAL E IMEDIATO

 


Sempre justifiquei minhas decisões e é o que faço, dias antes de uma das mais importantes eleições da nossa história.

A História mostra que existem valores que, quando ameaçados, levam, grupos antagônicos a abafar suas divergências e a potencializar suas convergências para gerar forças de coesão, capazes de  formar alianças para enfrentar o inimigo comum, o perigo real e imediato, que, depois de destruído ou neutralizado, esvaem-se.

E o PERIGO REAL E IMEDIATO que ameaça o nosso Estado Democrático de Direito é o Bolsonarismo Fascista cujo ícone é o presidente Jair Bolsonaro, por isso votarei no que restou, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Um voto de REJEIÇÃO como sempre foi o voto em segundo turno. E justifico, diante do intenso patrulhamento a que estou sendo submetido, de todos os lados, como oficial do Exército que sou, veterano.

Na 2ª Guerra Mundial, o Fascismo, na sua forma alemã do nacional-socialismo, o Nazismo, liderado por Adolf Hitler era o inimigo comum que uniu o Capitalismo e o Comunismo, que superaram suas divergências para enfrentar o PERIGO REAL E IMEDIATO.

Derrotado o inimigo comum, naturalmente se desfez a força de coesão e voltaram a se posicionar em polos antagônicos, gerando a Guerra Fria e, novamente, forças de coesão geraram alianças  militares, a OTAN e o Pacto de Varsóvia, até que, novamente, a derrocada do mundo comunista (queda do Muro de Berlin) com a implosão da URSS, acabou com o de Varsóvia e abrandou a coesão no lado ocidental, mantendo, a duras penas, a OTAN, abrindo espaço para o surgimento dos blocos econômicos que demarcaram o cenário político-econômico das últimas décadas.

Agora, a agressão da Rússia contra a Ucrânia, voltou a gerar forças de coesão fortalecendo a OTAN. E assim a História anda.

Eric Hobsbawn dá um marcante exemplo em “Era dos Extremos”: enquanto milhares de judeus eram cremados nos fornos nazistas, um grupo marginal extremista judeu que lutava na Palestina contra os ingleses (os mesmos que estavam lutando para salvar os judeus dos fornos de cremação) negociava com os nazistas, via Damasco, então sob os franceses de Vichy, esperando que estes os ajudassem no enfrentamento do Mandato Britânico da Palestina, porque este era o PERIGO REAL E IMEDIATO porque tinham a criação do Estado de Israel, como a mais alta prioridade do Sionismo:  um Estado que pudesse receber as levas de imigrantes judeus submetidos à perseguição nazista na Europa. Pois, espantem-se: entre os envolvidos nesta missão dois militantes que acabaram se tornando primeiros-ministros de Israel, Menachem Begin e Yitzhak Shamir. Deu para entender?

Aqui, no Brasil, teremos que eleger o Presidente República, mas absurdamente, a decisão do eleitor ficou reduzida, conforme o todo poderoso capo di tutti capi do Centrão e presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, a uma escolha entre dois caminhos, o MENSALÃO ou o ORÇAMENTO SECRETO (Estadão, editorial, 8/10/2022):  “O povo brasileiro vai escolher se quer orçamento feito pelo relator, distribuído pelos deputados e senadores, ou a volta do mensalão”, declarou. E, continuou, “são as duas maneiras de cooptar apoio no Congresso Nacional. Eu prefiro o orçamento municipalista”. Cooptar o apoio no Congresso Nacional! “Orçamento municipalista”, eufemismo para o Orçamento Secreto, que “acalmou o Congresso”, nas palavras de Bolsonaro, e proporcionou estabilidade política a um presidente acossado por mais de 140 pedidos de impeachment.

Depois de quatro anos de mandato de um sujeito despreparado (Gen. Augusto Heleno: “O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”, “A Tormenta”, Thaís Oyama, p.37), que já tinha sido defenestrado do Exército por ser mentiroso e desleal e que passara as três últimas décadas chafurdando no baixo clero do parlamento, que acenou com a fim da corrupção e consolidação do regime democrático, mas que aplicou o maior estelionato eleitoral da história, naqueles que lutaram, desde 2013, para exorcizar a corrupção e retornar aos trilhos dos princípios republicanos e democráticos, teremos que escolher entre um presidente que busca a reeleição e que assegura ser o Orçamento Secreto o meio de se manter no poder, não tendo resposta para o que Ciro Gomes jogou-lhe na cara, em debate, “A mais grave institucionalização que eu já vi na história da humanidade da corrupção como elemento central do modelo de poder é o orçamento secreto”, e um ex-presidente que patrocinou a roubalheira que pretendíamos exorcizar.

No próximo domingo deveremos decidir entre o que restou, BOLSONARO ou LULA, e não podemos nos omitir, pois está em jogo o nosso futuro. A que ponto chegamos! Decidir sobre CORRUPÇÃO ou DEMOCRACIA!

E não podemos cair na armadilha bolsonariana de escolher com base na CORRUPÇÃO, pois significaria Escolher entre o que roubou menos, a menos que se recorra a eufemismos para escamotear o que fez um sujeito que, exercendo somente cargos públicos, ao longo de sua vida, comprou (ele e a família) 107 imóveis, dos quais 51 imóveis, comprados com DINHEIRO VIVO, R$ 26 milhões. Entre LULA que COMANDou o escândalo da Lava Jato e BOLSONARO QUE PROMETEU ACABAR COM A CORRUPÇÃO, MAS TRANSFORMOU O BRASIL EM UM PAÍS MAIS CORRUPTO, SEGUNDO AVALIAÇÃO DA OCDE.

E a opção não pode ser outra que não seja a DEMOCRACIA, pois sem um Estado Democrático de Direito, impossível se torna o combate à corrupção e os últimos anos comprovam esta assertiva.

Nos anos sujos do Mensalão e da Lava Jato, graças à independência dos Poderes e o pleno desempenho de instituições de Estado, até Lula foi parar na prisão e só lá não ficou pela insensata ambição política da tal República de Curitiba que atropelou o Devido Processo Legal com o projeto de um Estado policial.

E nos anos de Bolsonaro? Como bem diz o recente manifesto de pesquisadores no combate à corrupção, “Bolsonaro não tem compromisso na luta contra a corrupção, a não ser por retórica, e que isso seria evidenciado por sucessivos escândalos de corrupção, alianças com o centrão, suposta interferência política nos órgãos de investigação e na imposição dos sigilos que ameaçariam a transparência”.

Pela sua absoluta incapacidade para exercer um papel de liderança na construção de uma base de apoio parlamentar, opta pela CORRUPÇÃO como meio de se manter no poder, entregando-se para um LEGISTATIVO CORRUPTO que aponta dois caminhos, o MENSALÃO ou o ORÇAMENTO SECRETO. Através deste LEGISTATIVO CORRUPTO, Bolsonaro está maculando a Constituição com uma série PECs.

Bolsonaro busca submeter o JUDICIÁRIO,  aparelhando os tribunais superiores. Um Presidente República que tem a desfaçatez de confessar que seu critério, para escolha de um ministro para as cortes superiores de Justiça, é norteado por “Currículo vale, mas para ser indicado ao STF tem que tomar tubaína comigo”. Agora, repetindo Chávez, Bolsonaro já ensaia aumentar para quinze o colegiado de ministros do STF. E não se engane este Legislativo corrupto, pois, tão logo, Bolsonaro aparelhar o Judiciário e consolidar o aparelhamento das demais instituições de Estado, inclusive as Forças Armadas, a guilhotina será o destino, repito, deste Legislativo corrupto.

A dura realidade, que gente boa insiste em não ver, porque está com a viseira de que Bolsonaro, apesar de todos os seus reconhecidos defeitos, é o único que “pode nos salvar do comunismo”: BOLSONARO ESTÁ PAVIMENTANDO A ESTRADA PARA O FASCISMO, um regime autoritário e boçal que poderá inviabilizar nosso sonho de um Brasil Plural, para todos nós, independente de preconceitos. Bolsonaro "representa uma ameaça concreta e iminente à democracia brasileira".

Esta ameaça de um regime autoritário, fascista, faz com que boa parte da nação priorize a preservação da DEMOCRACIA, a busca da CONCILIAÇÃO (o que se torna impossível com Bolsonaro) e, em torno disso, é que está se formando uma aliança para eleger Lula, o candidato que enfrentará Bolsonaro no 2º turno.

Diante de tudo isso, votarei em Lula, para nos livrar de Bolsonaro porque vejo neste um PERIGO REAL E IMEDIATO contra o Estado Democrático de Direito, cuja preservação, repito, é a base para que possamos construir um Brasil melhor e plural, para todos nós. Depois, pensaremos em Lula, como fizeram os Aliados com Stalin e a sua União Soviética.

Esta decisão é coerente com a minha militância política, nos últimos 35 anos, mesmo enfrentando resistências de toda ordem. Fui o único oficial do Exército que reagiu ao discurso de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988, com um artigo no Estadão, por ter, Ulysses, insultado os militares pelos anos duros do regime militar.

Pelo que consta, somente dois oficiais do Exército foram, até hoje, alvo de editorial no Noticiário do Exército, na ordem de publicação: Jair Bolsonaro (25/2/1988) e Péricles da Cunha (11/7/1991). No meu caso, fui estigmatizado, mas muito me orgulho, pois duvido que não reconheçam que, se tivessem seguido as minhas propostas, teríamos um Brasil melhor.





A propósito, transcrevo a conclusão do texto postado no meu blog, em 9/3/2021, “Lula e Bolsonaro: filhotes da ditadura”, que bastaria para justificar a minha decisão:

Verifica-se que enquanto o sindicalista Lula age na base da pirâmide, sobre a massa trabalhadora, no sentido de conciliar as relações patrões/operariado, o capitão Bolsonaro insufla a base contra o topo da pirâmide, tentando desestabilizar a cadeia de comando. Enquanto aquele é conciliador, este é desagregador. Dizem que Lenin odiava Eduard Bernstein, o líder dos social-democratas alemães, porque este, passou de revolucionário a reformista, graças às concessões que o poderoso movimento operário alemão vinha arrancando da burguesia, enquanto aquele buscava a ruptura com a destruição do capitalismo. Bernstein acreditava que o socialismo seria alcançado pelo capitalismo, não pela destruição do capitalismo. PARADOXALMENTE, O CAPITÃO BOLSONARO AGE COMO LENIN, O COMUNISTA, ENQUANTO O SINDICALISTA LULA, COMO BERNSTEIN, O SOCIAL-DEMOCRATA”.

E para concluir copio dois parágrafos do manifesto de pesquisadores no combate à corrupção, já referido:

“Daqui a dez, trinta, cinquenta anos, os que ainda estivermos vivos poderemos contar com orgulho pros nossos filhos, netos e bisnetos: naquele domingo, 30 de outubro de 2022, eu estava do lado certo. Não era um lado homogêneo, o dos que votaram para salvar o país da catástrofe. Pelo contrário, éramos gente de todos os cantos do espectro político, mas que passamos por cima das nossas diferenças por concordarmos com alguns pontos inegociáveis. Que só poderíamos ter uma vida digna na democracia”.

“Que, numa Terra redonda, a ciência é quem decide que remédio funciona e qual é charlatanice. Que quando centenas de milhares de brasileiros morrem, prestamos as nossas condolências e solidariedade, não os imitamos, às gargalhadas, morrendo por asfixia. Ao decidirmos votar em Lula e Alckmin naquele 30 de outubro não escolhemos uma chapa ou um partido político: participamos de um plebiscito entre a escuridão e a democracia”.

Péricles da Cunha, 22/10/2022